SISTEMA OPERATIVO

Exemplo prático

Se na zona de jogo alguém colocar uma cadeira no centro do espaço, essa cadeira “ainda não é” nada (nem mesmo uma cadeira), até que uma segunda ação lhe dê uma função/direção. Até uma segunda ação lhe dar “um passado”. E isso, independentemente da razão que levou a primeira pessoa a colocar a cadeira no espaço. Ou seja, neste "espaço de potência" do laboratório, a cadeira é ao mesmo tempo, uma cadeira e tudo aquilo em que ela se puder tornar. É um objecto em aberto.

Se, num segundo tempo, alguém se sentar na cadeira é porque a nossa “suspeita” de que se tratava de uma cadeira, confirma-se.


Mas se em vez de se sentar, colocar duas cadeiras ao lado da primeira, a primeira cadeira não deixa de ser uma cadeira, mas essa informação passa para segundo plano, e o que se torna saliente é o facto de se estar perante três objetos (que calham ser cadeiras) que se repetem.


Ainda nesta linha de pensamento, mas um pouco mais complexo, se a segunda cadeira colocada não for igual à primeira mas, por exemplo, um sofá, a ideia de repetição passa para um segundo plano, para se tornar saliente o facto de se estar perante uma seriação de objetos distintos com a mesma função. E assim por diante.

Em qualquer dos casos, o acontecimento confronta-se com a expectativa que temos sobre ele e, dependendo da segunda ação, a história tem que ser reescrita retrospectivamente. É exatamente por isso que a clareza desta segunda ação é crucial para o desenrolar e o desdobramento do acontecimento. Ela tem que se “referir” a um aspecto muito preciso da imagem, para que esse “novo” sentido se revele. Se pensarmos numa linguagem cinematográfica, essa precisão, essa lucidez que o método procura, é o que possibilita a sessão de continuidade que encontramos numa montagem com raccord na junção entre duas imagens distintas. Em Composição em Tempo Real, a única forma de se manter o “raccord” entre duas imagens, é aceitar e incorporar retrospectivamente que uma formulação do tipo “três objetos iguais” é substancialmente diferente da formulação “três objetos com a mesma função”. Essa diferença aparentemente mínima na formulação é, no método de Composição em Tempo Real, de extrema importância.